História

A mais antiga descrição a esta doença foi em 1874, quando Demme encontrou em um recém-nascido a presença de fezes abundantes, fétidas e gordurosas, relacionadas a alterações dos canais excretores do pâncreas. Só após um longo tempo se começou a fazer uma associação entre pele salgada e morte precoce (“the child will soon die, whose brow tastes salty when kissed”).

Fanconi, em 1935, individualiza clinicamente a Fibrose Quística, sendo a sua autonomia anatómica comprovada em 1938 por Dorothy Andersen, que a intitulou de “fibrose quística do pâncreas”, mais tarde abreviada para fibrose quística. Farber e Shwachman (1944) verificaram que a afecção ultrapassava largamente a doença pancreática, afectando de maneira generalizada as glândulas secretoras, e denominaram-na mucoviscidose. Em 1953, perante uma onda de calor que surgiu em Nova York, desencadearam-se numerosos casos de desidratação (sem diarreia ou vómitos), Paul di Sant Agnese encontrando-se teores elevados de cloreto de sódio no suor desses pacientes (Cl- e Na+ acima de 60,0 mEq/L), não só demonstrou o comprometimento das glândulas serosas nesses doentes, como propiciou uma prova laboratorial de extraordinário valor para o diagnóstico da doença: o “teste do suor”.

Mais tarde (1959) Gibson e Cooke introduziram o método da iontoforese com pilocarpina para a execução do teste do suor, que é até hoje a técnica de escolha para a execução deste exame laboratorial. Posteriormente, Knowles et al. (1981) demonstraram que a diferença de potencial nas vias respiratórias desses pacientes era significativamente maior que em indivíduos normais e portadores de outras doenças. Em 1983 Quinton, estudando a perfusão nos ductos de glândulas sudoríparas isoladas de pacientes com fibrose quística, demonstrou que o aumento da voltagem nesses casos era devido a um transporte anormal do ião Cl-. Em 1985 Helen Donis-Keller, David Barker (Boston) e Lap-Chee Tsui e Manuel Buchwald (Toronto) localizaram o gene da fibrose cística no braço longo do cromossoma 7. A identificação do gene, entretanto teve lugar somente em Agosto de 1989, quando dois grupos de pesquisadores, um em Toronto, liderado por Lap Chee Tsui, e outro em Michigan, liderado por Francis Collins, não só identificaram o gene, mas também uma proteína por ele codificada, que foi designada pelas letras CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Regulation), que funciona como reguladora de conductância transmembranar. Esta proteína controla um canal iónico de cloretos e sódio localizado a membrana apical das células epiteliais de alguns órgãos, especificamente vias biliares, criptas intestinais, pâncreas, aparelho respiratório, aparelho reprodutor túbulos renais e glândulas sudoríparas.

Consta ainda, que em 1905 Landsteiner descreveu o SOID associando-o à insuficiência pancreática exócrina e que em 1935, Fanconi descreveu doentes com características clínicas de doença celíaca, contudo com insuficiência pancreática exócrina associada e patologia pulmonar. Em 1955 foi criada, nos EUA, a Cystic Fibrosis Foundation; em 1964, foi fundada a International Cystic Fibrosis (Mucoviscidosis) Association ICF(M)A, instituição que, desde então, vem desempenhando papel importante na promoção de eventos, evolução e divulgação dos conhecimentos sobre a FQ, ajuda para criação de novas associações, fomento para pesquisa e formação de profissionais especializados. Shwachman e Holsclaw, já em 1968, descreveram a obstrução do canal deferente e tubos seminíferos, justificando a infertilidade presente na maioria dos homens com a doença; em 1979 Crossley demonstrou o aumento, no sangue, da tripsina imunorreativa (TIR). Buscas para diagnóstico precoce e tratamento agressivo aconteceram na década de 1990-2000, com o objectivo de promover uma boa qualidade de vida e evitar danos irreversíveis.

Uma das novidades mais recentes com relação à Fibrose Quística foi a divulgação simultânea com o National Human Genome Research Institute (NHGRI), que anunciou no dia 12/02/2001 em Curitiba (PR) a sequência genética completa relacionado com a moléstia.