Testemunhos

Testemunhos Pacientes

Ana Filipa Ferreira

Viver com Fibrose Quística, não é fácil. É uma luta constante do dia-a-dia. É a luta de esforço, cuidado e muito receio.

De esforço porque é preciso ter muita preparação e boa recepção psicológica para suportar as noticias que recebemos quando menos esperamos (por exemplo: operação, o transplante) são coisas que sabemos que temos de fazer um dia, mas quando chega esse dia parece que não estamos preparados e somos apanhados de surpresa.

De cuidado, porque apesar de poder fazer uma vida normal, temos que reflectir nas coisas e ter consciência que se correr demais fico sem ar, que se andar ao frio e desagalhada depois fico doente e consequentemente sou internada. Desde que nasci que estou habituada a tomar medicação. Que estou habituada a estar constantemente internada, a ser picada porque as veias rebentam.O mundo foi um pouco duro para mim, mas acreditem que encaro isto como um desafio, como uma coisa que tenho de vencer. Encaro como se me tivessem dado isto porque tinham a certeza que eu iria ter capacidades de ultrapassar. Apesar de ter isto tudo, todas estas preocupações, há um bocadinho da minha vida que consegue ser feliz. Existe uma Ana Filipa feliz. Nunca pensei ‘Não vale a pena, vou desistir’ mas sempre pensei ‘Vou continuar e ser feliz, porque nunca vou desistir’.

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Haviam pessoas que diziam que isto não é vida, mas dizem-no porque nunca tiveram de ser privar de nada! E mesmo tendo tudo da sua vida, ainda se queixam. Por isso nós doentes de FQ somos uns lutadores, porque mesmo com restrições lutamos e não desistimos.

Sempre levei a vida assim, e por isso que no final de dezoito anos fui presentada com um transplante pulmonar, que foi como uma segunda vida que me deram. Esperei, lutei, desanimei por vezes também, mas nunca desisti.

Mesmo na altura em que fui chamada para transplante, a incerteza estava presente, mas a certeza que aproveitei a minha vida ao máximo, que estava feliz era ainda maior. E avancei, avancei sem medos, e com uma esperança enorme que ia vencer, e uns meses depois aqui estou eu, a sorrir e feliz como sempre quis ser .

Por isso vos deixo aqui uma palavra de força e muito animo. Não desperdicem uma vida a desanimar e a perguntar o porquê de vos ter acontecido a vocês. Já que temos direito a uma segunda vida, aproveitemos ao máximo as duas. E somos uns sortudos por ter a oportunidade de viver e ter o direito de lutar para viver .
Sei que não é fácil, mas também desistir é fácil de mais. Lutemos e mostraremos ao mundo que somos como todos, e temos uma força interior que nada nem ninguém nos desanima.”